Palacete dos Pereiras

Nossa Sede

Nada é mais significante para um regime monárquico que a relação soberana entre a figura regente e o seu palácio. Mais ainda quando o mesmo é sinônimo de bravura e força imperial (ou política). No Território Livre de Princeza não foi diferente. A coragem do seu povo e a ousadia de seu líder maior são, atualmente, representados pela imponência de um palacete de extrema beleza arquitetônica e inestimável valor histórico.

O “Palacete dos Pereiras”, como é conhecido, acomoda não apenas mosaicos austríacos e imensos janelões, entre paredes grossas e terraços exuberantes. Nele reside, principalmente, a história de uma família que dedicou sua vida pelo desenvolvimento da terra natal.

Palacete do coronel José Pereira em frente a Praça Epitácio Pessoa

Tudo começou quando o membro de uma das principais famílias nordestinas, o senhor Epitácio Pessoa de Queiroz (Epitacinho), sobrinho do ex-Presidente da República, o senhor Epitácio Pessoa, cometeu um crime passional, na capital do estado de Pernambuco, assassinando o médico Bandeira de Melo, casado com uma prima legítima do senhor João Pessoa Cavalcanti de Albuquerque, que seria, depois, Presidente da província paraibana. Epitacinho, após o ato delituoso, refugiou-se em Princeza, sob a proteção do amigo próximo, o Coronal José Pereira Lima. É necessário lembrar que este crime e a atitude solidária do coronel tocaram, profundamente, a família do ex-Ministro e ex-Governador paraibano, João Pessoa, que, já prevendo suas intenções proclamou o seguinte:

- Se um dia eu vier a governar a Paraíba, acabarei com o prestígio de três famílias: os Dantas, de Teixeira; os Santa Cruz, da cidade de Monteiro; e os Pereira, da cidade de Princesa.

O Coronel, de forma cortês, como era seu costume, informou ao hóspede (assim como ao seu irmão, compadre do Coronel, o industrial José Pessoa de Queiroz), que receberia o foragido, da melhor maneira possível, até que o crime fosse julgado. Naturalmente, como adiantou o coronel, a depender da sentença final, transitada em julgado, o amigo permaneceria (ou não), em suas terras. Epitacinho e a família, seguros dos seus direitos, aceitaram as condições.

Epitácio Pessoa

Coronel José Pereira Lima

José Pessoa de Queiroz

Em sua estada nas terras princesenses, o visitante, para seu melhor conforto e sob orientação do seu irmão, resolveu construir uma casa, segundo o seu estilo e de acordo com suas expensas, que não eram poucas. Contratou o artesão/construtor José Ferreira Dias, conhecido como “Ferreirão”, famoso em toda a região, por ter construído obras importantes, como a belíssima igreja de Triunfo - PE.

Ergueu-se, assim, um palacete com 46 (quarenta e seis) portas e janelas, piso em mosaico trazido da Áustria (em baixo relevo), 05 (cinco) quartos, salas de refeições, terraços, salas de recepção, cozinha, área de serviço e garagem externa, duas vezes maior à área construída.Após alguns anos, Epitacinho foi absolvido do crime, e resolveu retornar a sua terra natal, Recife – PE, mas guardou consigo o patrimônio nas terras revolucionárias paraibanas. Depois de algum tempo, o seu irmão José Pessoa de Queiroz, julgando desnecessária a manutenção do imóvel em nome da família e determinado a restituir o enorme favor prestado pelo seu amigo, o Coronel José Pereira, resolveu presentear, com o palacete, a sua afilhada, Luiza Pereira Lima, filha primogênita do coronel e irmã mais velha do ex-Deputado Estadual e ex-Secretário de Estado da Saúde, o médico Aloysio Pereira Lima.

Utensílios pertencentes ao coronel José Pereira Lima

Dona Luizinha, como era conhecida, foi uma dedicada dona de casa e habitou com o seu esposo no palacete até sua morte, em 27 (vinte e sete) de maio de 2002. O seu amado companheiro, Gonzaga Bento, faleceu após três meses, em 05 (cinco) de setembro do mesmo ano. Gonzaga foi vereador do município por dois mandatos, foi vice-prefeito, Prefeito da cidade de Tavares (sua terra natal), e ainda três vezes Prefeito de Princesa. Nunca perdeu uma eleição e (como bem pronunciou Hermosa Pereira Sitônio) “apesar de não ter o sangue, foi Pereira tanto quanto os que tinham, pois nunca deixou ser derrubada a bandeira política de seu sogro, o Coronel Zé Pereira”.

Após a morte dos proprietários, o Palacete e todo o espólio foram repassados aos herdeiros Rosane e Humberto, filhos de Gonzaga e Luizinha. Posteriormente, em conseqüência da conclusão da Ação de Inventário, a casa foi registrada em nome de Rosane Pereira de Sousa Soares, atual proprietária, que vem a ser, portanto, neta do Coronel José Pereira Lima e sua esposa Alexandrina Pereira Lima (Dona Xandú).

Coronel José Pereira e seus homens durante a Revolta de Princesa

Além de residência do Coronel José Pereira, por um breve período após a anistia, o Palacete, durante a famosa guerra ocorrida em de 1930, que alguns chamam de “Revolta de Princeza”, serviu de Hospital de Sangue, onde se salvaram inúmeros combatentes princesenses, além de membros da Polícia paraibana, que o coronel ordenava tratar com enorme respeito e atenção. Esse procedimento fez com que muitos aderissem à causa daquele povo sertanejo, que se insurgia contra o governo paraibano.O “Palacete dos Pereiras”, apesar das intempéries e da utilização ininterrupta, mantém-se erguido e majestoso, mas precisa, naturalmente, de atenção e carinho.

Nessa edificação grandiosa e charmosa, construída na década de 20 (vinte), do século passado, residiram membros das famílias mais importantes do Nordeste. Hospedaram-se ou foram recebidas figuras ilustres como coronéis, governadores, prefeitos, artistas, empresários, políticos diversos e personalidades valorosas, como Alcides Carneiro, Canhoto da Paraíba e Ariano Suassuna.Sua história é maior e mais admirável que suas curvas e desenhos arquitetônicos. Está ligada à memória do povo brasileiro e por isso desfez-se o seu caráter pessoal, individual, particular. O objetivo primordial de sua existência é público, coletivo, devendo ser amado, preservado e compartilhado, sob a égide dos Poderes Públicos, especialmente, Estadual e Federal, pois possuem recursos disponíveis.

O Palacete do Coronel José Pereira, em Princesa Isabel – PB, transpira história e arrepia, quase sempre, os seus visitantes. História verdadeira. História brasileira. História de um povo, constantemente, esquecido no alto sertão nordestino, mas que permanece aguerrido, lutador, trabalhador e vivo, como a sua memória.

Thiago Pereira de Sousa Soares

Fonte: http://cariricangaco.blogspot.com/2015/03/um-coronel-e-o-seu-palacio-porthiago.html